Na imagem: A luz elétrica era vista pelos futuristas como um símbolo da modernidade (Poste de iluminação, de Giacomo Balla)
Em 1915, alguns jovens artistas portugueses fundaram uma revista que seria porta-voz de seus ideais estéticos e os concretizaria, trazendo para Portugal as discussões artísticas que ocorriam nas principais cidades europeias. Entre eles, estavam Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Luís de Montalvor, José de Almada-Negreiros e, de passagem, o brasileiro Ronald de Carvalho.
Os textos publicados nos dois números de Orpheu revelam os primeiros passos de uma estética da diversidade, do questionamento dos valores estabelecidos ética e literariamente, da euforia face às invenções da técnica, da libertação da escrita literária e de todas as regras. Os ecos futuristas, na valorização da máquina e da velocidade, aparecem, já no primeiro número, nos versos da "Ode triunfal", de Álvaro de Campos, que foi um dos heterônimos do poeta Fernando Pessoa.
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos, [...]"
Trecho de Ode triunfal, de Álvaro de Campos
Fonte: Livro de Português - Volume único, de Maria Luiza Abaurre, Marcela Nogueira Pontara e Tatiana Fadel.