Resenha: O Sincronicídio, de Fabio Shiva


"Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão." - Carl Gustav Jung 

Uma série de assassinatos brutais intriga a polícia de Rio Santo. E meio a muito suspense, sexo e misticismo, apenas um homem mostra-se capaz de identificar um ponto em comum entre tantos crimes e desvendar o mistério por trás de O Sincronicídio. E é por isso que Alberto Teixeira, inspetor da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.


Entre tantos e tantos livros de suspense policial já publicados, não imaginava que ainda iria me surpreender em relação a originalidade de alguma obra. Mas foi justamente o que aconteceu com O Sincronicídio, livro de estreia do autor brasileiro Fabio Shiva. Não é apenas por causa do enredo cheio de mistérios e tensões bem enlaçadas, mas também pela forma como tudo isso foi entregue ao leitor.

A organização e edição da obra é realmente bem peculiar. No decorrer dos 64 capítulos o leitor também vai se aventurar por um "Passeio do Cavalo" através dos hexagramas do Livro das Mutações - I Ching.

Além disso, a linguagem fluida e bem esculpida torna a leitura muito mais leve. Considerando que o livro tem mais de 500 páginas e sua história se desenrola em apenas um dia (como Ulisses e Mrs. Dalloway), é de se surpreender que em nenhum momento percebi algo cansativo na narrativa.

Isso porque a obra foi escrita bem ao estilo dos folhetins: ao fim de cada capítulo, um novo mistério.

"Hábitos podem ser perigosos. Podem tornar o comportamento de um homem previsível. E o que é possível prever é possível controlar." (pg 92)

Mas o que com certeza me chamou mais a atenção foi o apelo do autor para questões transcendentais, pois cada vez mais vemos escritores de suspenses abandonando características como essa e optanto por romances mais diretos e convencionais. Com isso, o livro ganhou ainda mais originalidade.

"A pior coisa a respeito do passado é que ele não muda. Às vezes, sequer fica mais distante. Talvez o homem pense tanto no que já aconteceu movido pela triste esperança de modificar o ontem. Mas querer mudar os fatos passados é tão inútil quanto tentar escapar deles. O passado é que nem uma sombra, quanto mais fugimos mais ele nos persegue." (pg 157)


Com seu primeiro livro publicado, Fabio Shiva já mostrou levar muito jeito para a literatura policial. Com um enredo bem estruturado e inusitado e uma linguagem sutil e convidativa, O Sincronicídio faz o leitor participar ativamente de cada novo mistério. Certamente esta foi uma das melhores leituras deste ano!


Sobre o autor: Fabio Shiva nasceu em Salvador, Bahia. Aos 8 anos começou a apresentar o programa Chão e Paz na TV Itapoan / TV Aratu. Três anos depois, com a ida da família para o Rio de Janeiro, aposentou-se da carreira de apresentador infantil.

No ano seguinte teve sua iniciação literária com a publicação do poema “Terra” em uma antologia. De lá para cá participou de outras coletâneas de contos e poemas. Aos 16 anos tornou-se professor na Escola de Música Santa Cecília e com a mesma idade ingressou na Faculdade de Comunicação da UERJ, onde se formou, tendo cursado também Ciências Sociais na UFRJ e Psicologia na UERJ.

Fabio Shiva
Trabalhou como ghost-writer em livros de astrologia e como revisor em diversas publicações. Como alguns de seus escritores favoritos, exerceu diversas outras profissões: camelô, body piercer, analista de RH, corretor imobiliário, diagramador, produtor cultural, secretário social, radialista, compositor de jingles políticos.

Essas atividades ocorreram em paralelo à carreira musical, iniciada com a banda Imago Mortis em obras como o aclamado VIDA – The Play of Change, disco que foi considerado um dos melhores lançamentos do rock pesado nacional. Hoje toca baixo nos Mensageiros do Vento, em fase de produção de ANUNNAKI, a primeira ópera-rock em animação brasileira.

Fundou a Comunidade Resenhas Literárias, que já fez circular mais de 1.500 livros pelo país. É facilitador da Oficina de Violão na Casa da Música, APABB e Instituto Daniel Comboni. Já ministrou também a oficina de Meditação para Crianças, e as duas oficinas estão sendo transformados em livros. Em parceria com Fabricio Barretto escreveu o livro de literatura/filosofia MANIFESTO – Mensageiros do Vento. Tem pronto um livro de contos: ISSO TUDO É MUITO RARO.