Realismo em Portugal e a Questão Coimbrã

Na foto: Biblioteca da Universidade de Coimbra. Muitos dos jovens realistas portugueses estudaram na Universidade de Coimbra. Por lá passaram, entre outros, Antero de Quental e Eça de Queirós.

Em Portugal, é a chamada Geração de 70 que se assume como consciência de uma época e da necessidade de mudança para um novo século e uma nova mentalidade, claramente sugeridas pelas transformações observáveis principalmente na Inglaterra e na França.

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Na segunda metade do século XIX, Portugal era um país atrasado em relação ao restante da Europa, pois não sofrera ainda as grandes transformações trazidas pelo processo de industrialização. A maior parte da população portuguesa concentrava-se no campo. À exceção de uma burguesia rural que vivia momentos de prosperidade, Portugal parecia adormecido, incapaz de compreender o declínio econômico decorrente da perda de suas principais colônias. O saudosismo colonialista impedia que o país participasse das transformações nos modos de produção que agitavam a Europa e o condenava a uma situação crítica.

Culturalmente, as marcas do progresso podiam ser vistas nos centros universitários, principalmente em Coimbra, onde jovens entusiasmados com as informações chegadas dos grandes centros europeus reuniam-se em grupos de discussão. As novas perspectivas sociais e literárias aparecem nas obras iniciais de Antero de Quental e Teófilo Braga.

Teófilo Braga é o primeiro a publicar seus poemas ("Visão dos tempos" e "Tempestades sonoras"), em 1864. No ano seguinte é a vez de Antero lançar suas Odes modernas. A forma como o respeitado poeta romântico Antônio Feliciano de Castilho recebeu essas obras deu início a uma acalorada polêmica literária que marcaria o ano de 1865 como o início do Realismo em Portugal. Tal polêmica ficou conhecida como a Questão Coimbrã ou Bom Senso e Bom Gosto.

A Questão Coimbrã


Castilho era poeta respeitado por sua vasta cultura e conhecimento dos clássicos. Em posfácio ao livro de um de seus discípulos, Pinheiro Chagas, o poeta romântico criticou os arroubos da nova poesia. Segundo ele, a escolha dos temas denotava falta de bom senso e bom gosto. Para Castilho, a poesia era espaço do belo, e não podia ser conspurcada por ideais revolucionários.

Inconformado com as críticas recebidas e descontente com a perspectiva retrógrada associada a elas, Antero de Quental resolve responder ao velho mestre. Em um texto intitulado Bom Senso e Bom Gosto, defendeu a independência da nova escola, ao mesmo tempo em que fez ver que o atraso de Portugal podia ser creditado, em parte, à valorização de perspectivas passadistas como as de Castilho.

Ao fim de sua carta, Antero afirma: "Concluo daqui que a idade não a fazem os cabelos brancos, mas a madureza das ideias, o tino e a seriedade: e, neste ponto, os meus vinte e cinco anos têm-me as verduras de V. Exª convencido valerem pelo menos os seus sessenta."


Fonte: Livro de Português - Volume único, de Maria Luiza Abaurre, Marcela Nogueira Pontara e Tatiana Fadel.