Resenha: O Francês que caiu do céu, de Wagner Grillo


A edição do livro também foi - aparentemente - bem produzida. O visual agrada, porém encontrei muitos erros de revisão.

Olá pessoal, como vão? Na "resenha" de hoje vou falar sobre o livro "O francês que caiu do céu", que recebi de uma parceria com o autor Wagner Grillo. Coloquei resenha entre aspas pois, como já havia dito outras vezes, tenho uma certa dificuldade em resenhar livros de contos. Mas espero que este post seja o mais útil possível para que vocês conheçam o trabalho desse autor mineiro. 


"O francês que caiu do céu" é um livro que em suas 155 páginas, reúne 9 contos diferentes. Todos eles chegam com a proposta de unir a realidade com a ficção, numa mistura de sexo, drogas, miséria, medos, lembranças da juventude, a ponto de mostrar ao leitor as taras e podres mais íntimas das personagens (que refletem uma boa parte da nossa sociedade).

A porta de entrada do livro é o conto "Morta-Viva" que tem 'Licurguinho' como personagem principal. Inicialmente, ele parece ser um cara normal, com uma vida normal, que tem uma família normal... Mas, aos poucos, cenários inusitados vão surgindo e Licurguinho vai revelando sua verdadeira personalidade. Em meio à favelas, tráfico de drogas e desentendimentos pessoais, a história reúne muitas cenas de ação. Entretanto, alguns pontos tornam-se cansativos, devido a um 'morre-desmorre' de personagens. Mas, mesmo assim, o resultado final mostrou-se bem satisfatório.

O segundo conto é, sem dúvidas, o melhor, não é atoa que deu nome ao livro. "O francês que caiu do céu" vem com o mesmo estilo do 1º conto, em meio à favelas, tráfico e crimes. Porém, é infinitamente melhor: o enredo é muito mais denso e dinâmico. A cada parágrafo um novo acontecimento, uma nova revelação. Surpreendentemente, tudo está lá por uma boa razão: não há frases soltas e o enredo vem entrelaçado do início ao fim. Além disso, tem um desfecho bem inesperado, o que chama a atenção para a criatividade do autor.

Outro conto que chama a atenção pelo enredo bem entrelaçado e dinâmico é "Decoro Pra-Lamentar". Neste, temos um cenário diferente: a política. Ao contrário de "A morta-viva", que se perdeu entre tantos personagens e causou um certo cansaço, aqui os personagens são distintos, têm personalidades diferentes, mas estão todos no enrendo por uma boa razão. Entre muito jogo político, em que o personagem principal - um deputado - pensa estar sempre 'por cima', vemos que nem sempre o protagonista leva a melhor; todos revelam podres e ambições inesperadas que fazem com que o desfecho aconteça de uma forma bem inusitada - e até certo ponto, cômica.

"O Segredo de Hércules" e "O Tempo" são os piores do livro. O primeiro, pelo desfecho extremamente óbvio. O segundo, pelo enredo massante. "O Tempo" é bem mediano em suas 16 páginas, mas seria um ótimo conto se tivesse terminado na 4ª página. Ele começa bem, falando sobre um cara que foge arrependido no dia do seu casamento, tentando buscar uma vida nova e sair da mesmice, e durante sua fuga em seu carro, começa a ter 'flashbacks' de seu passado, pensando nas coisas que faria diferente. Porém, o personagem principal - Antônio - não desperta empatia no leitor, o que nesse caso penso que seria necessário. Fora que, passar 16 páginas esperando o desfecho óbvio é, como disse antes, extremamente massante.

Por fim, "Cacoete", "Stripper", "O Conquistador" e "O Vigia Cego" surpreendem pela desinibição do autor em percorrer e desenvolver as taras e fetiches dos personagens, e até criar fatos bem cômicos em meio a cenários comuns e personagens - aparentemente - comuns.

O livro como um todo me agradou, embora alguns contos decepcionem. O ponto forte certamente foi trazer diferentes cenários e personagens, desde traficantes, ladrões e prostitutas até policiais, políticos e empresários. Ressalto, porém, que autor precisa urgentemente aumentar seu repertório de personagens mulheres (o livro, de forma geral, fracassa no teste de Bechdel). Com uma linguagem seca e ao mesmo tempo dinâmica, Wagner Grillo mostra ser uma ótima revelação entre os escritores brasileiros.