Resenha: Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus


Olá, pessoal! Como vocês estão? Estou chegando com mais uma resenha para vocês aqui no blog! E dessa vez vou falar sobre um livro nacional que provavelmente é um dos livros mais tocantes da nossa literatura: Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Esse livro é uma reprodução do diário de Carolina, retratando histórias reais vivenciadas por ela entre os anos 1955 e 1960.

Carolina nasceu no estado de Minas Gerais em 1914, mas se mudou para São Paulo aos 33 anos. Na época em que escreveu o diário, ela vivia nas favelas da cidade de São Paulo, tinha três filhos pequenos e trabalhava como catadora de lixo e reciclagem. Desde criança ela já se interessava pelos livros e encontrou na escrita um refúgio para se afastar do sofrimento e expressar suas angústias de mulher preta, pobre e mãe solteira.

9 de maio de 1958
Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: Faz de conta que eu estou sonhando.

O diário de Carolina retrata a cruel realidade das comunidades pobres nos fins dos anos 50, cercadas pela fome, desemprego e moradias precárias. Assim, por ser um diário, a autora faz com que o leitor se aproxime ainda mais de sua vivência. Não foram poucas as vezes que me peguei com um nó na garganta pensando em todas as moléstias que pessoas como Carolina tiveram que enfrentar (e ainda enfrentam até os dias de hoje).

16 de junho de 1959
Hoje não temos nada para comer. Queria convidar os filhos para suicidar-nos. Desisti. Olhei meus filhos e fiquei com dó. Eles estão cheios de vida. Quem vive, precisa comer. Fiquei nervosa, pensando: será que Deus esqueceu-me? Será que ele ficou de mal comigo?"

Apesar de todas as agruras da vida, Carolina nunca parou de escrever. No seu diário, Carolina falava sobre o dia a dia na favela, sobre as confusões quase diárias entre os favelados, sobre a dificuldade de trabalhar e conseguir comida para seus filhos... Mas também era muito crítica ao falar sobre o preconceito que sofria na sociedade por ser mulher, negra e pobre. Inclusive, ela usou vários pontos do diário para criticar os políticos e as classes mais abastadas.

20 de maio de 1958
[...] Quando um político diz nos seus discursos que está ao lado do povo, que visa incluir-se na política para melhorar as nossas condições de vida pedindo o nosso voto prometendo congelar os preços, está ciente que abordando este grave problema ele vence nas urnas. Depois divorcia-se do povo. Olha o povo com os olhos semi-cerrados. Com um orgulho que fere a nossa sensibilidade.

Agora você pode estar se perguntando: mas como uma favelada, sem dinheiro nenhum no bolso, conseguiu publicar um livro? Acontece que Carolina já mantinha o diário há muito tempo quando foi "descoberta" por um jornalista. Tudo aconteceu em 1960, quando o jornalista Audálio Dantas visitou a favela do Canindé, favela onde Carolina de Jesus morava na época. Naquela ocasião, ele acabou conhecendo Carolina, relatando que "apesar de ser uma mulher extremamente pobre e simples, demonstrava uma grande lucidez crítica", propondo então a preparação do diário dela para publicação. Desde então, entre altos e baixos, o livro foi um sucesso de vendas, já tendo sido traduzido para dezenas de idiomas.

"Quarto de Despejo" é um espelho crítico da dura realidade em que a autora viveu, mas que até hoje perpetua-se entre muitas comunidades no Brasil. É uma leitura muito emocionante, que certamente irá marcar a vida de qualquer pessoa. Certamente recomendo a leitura! 


* Obs.: Os erros gramaticais e de concordância contidos nas citações deste post fazem parte do livro original.